sexta-feira, 18 de março de 2011


 
Como Envenenar Seu Fusca!
                                              Capítulo I



1. É feio! Questão de gosto! Muitos gostam de seu toque nostálgico.
Eu, por exemplo, lembro de minha infância e de meu pai nos vários Fuscas que teve.
Lembro-me até do cheirinho de Fusca novo! Como recuperá-lo? Ou melhor, recuperá-los?

2. É brega! Não se for original e originalidade aceita acessórios da época de fabricação do carro.
Mas cuidado! Pois bola da alavanca do câmbio de acrílico com o signo dentro já era brega. Mas quem não foi brega? Basta ver suas fotos antigas!

3. Não faz curva, tem pouca estabilidade. Na verdade não, mas dá para melhorar com rodas (da época) mais largas, de ferro mesmo, mantendo a calota, pneus radiais, amortecedores mais duros, tudo isso ajuda e chega a ficar bom.

4. Não freia! A solução é colocar freio a disco na frente, do Fusca mesmo, revisar o traseiro, assim como todo o sistema. Acaba ficando aceitável.

5. Segurança passiva (no caso de choques). Essa não dá para melhorar, fora bons cintos de segurança de três pontos. Não é um carro para molecagens, pois ele vai andar forte mesmo.

É, meu amigo, mas você quer o quê? O projeto do Fusca já tem uns 70 anos e é aí que está a graça, é por isso que você está lendo este texto e espero que leia todos os capítulos, onde serei mais técnico citando custos das preparações e performance esperada.



Agora vamos às vantagens!

1. Fusca não sai de moda, ao contrário, um Fusca original e bem conservado é cada vez mais valorizado e admirado. Nos Estados Unidos e Europa existem legiões de fãs, e dizem que o que é bom para eles tem que ser bom para nós, não é?

2. É barato!  Um Fusca 1967, 1968, 1969 em bom estado pode ser comprado por um valor entre R$ 1.500,00 e R$ 2.500,00 e com um pouco de investimento ele fica inteirinho. Acha-se peças em qualquer "boteco de esquina" e quase todo funileiro fez escola no coitado do Fusca!

3. A Mecânica é simples, minimalista. Com o tempo você acaba entendendo como ele funciona, mesmo sendo um leigo. Carros modernos, com toda eletrônica embarcada são tão complicados que, se não houver forte interesse, acabamos por desistir.

4. Sua preparação é simples e a mais barata, com respostas em desempenho das mais vantajosas por Real investido.

5. Tendo tração traseira, e motor em cima da tração, o Fusca quase não patina nas arrancadas (ao arrancar o peso do carro se desloca quase todo para a traseira), isso faz o carro dar um pulo na frente dos outros, o que já é um começo de moral.

6. É "low-profile", os assaltantes não te dão bola, até mesmo os flanelinhas e vendedores de balas te deixam em paz nos faróis.

7. É um carro leve, por volta de 800 kg, portanto cada cv (cavalo de potência) vai carregar pouco peso. É a tal relação peso / potência.

8. Proporciona boas risadas quando você der uma "ralada" em algum carrão que se meta a besta com você. Nesse caso, dou uma dica: caso lhe perguntem, não confesse que é “mexido”, diga que é 1.300 cc original. Que é da sua mãe, que herdou do avô, sei lá, invente qualquer coisa, e fique olhando para a cara dele, sério, normal, depois você ri!

No próximo capítulo, falaremos sobre preparações e custos, mas desde já adianto que você pode ter um motor 1.600 cc com duas duplas carburações Weber que ele já ficará bem esperto e terá uns 80 cv, mas se você estiver disposto a gastar, pode aumentar a cilindrada, turbinar, etc., e passar dos 250 cv, deixando até Porsche na arrancada.

Quando puder, procure assistir a uma prova de arrancada em Interlagos e veja os Fuscas empinando na largada, que é de tirar o fôlego!




                  Como Envenenar Seu Fusca!    
   CapítuloII                                                                                   Conforme prometido, começaremos com as preparações mais "mansas", e a partir daí para as mais fortes.

Aconselho que leiam a todas para depois optar.

Vamos lá, comecemos pela base: se o seu motor é de 1.600 cc mais antigo, devem ser trocados os prisioneiros do cabeçote. Os cilindros e os cabeçotes de válvula do motor do Fusca são parafusados ao bloco por meio de vários parafusos compridos e nos motores mais antigos esses parafusos eram atarraxados diretamente no bloco. Quando se prepara um motor, os esforços aumentam nesses pontos, portanto, podem ocasionar o rompimento dessas roscas, espanando-as, isso faz com que os cabeçotes e cilindros se soltem, e aí você sabe, parte do motor vai para o lixo.

Os motores mais novos já vêm de fábrica com uma bucha de cobre atarraxada ao bloco, e é nela que se encaixa um novo parafuso prisioneiro. Caso seu motor não tenha sido feito dessa maneira, faça-o (a maioria das retíficas faz o serviço por mais ou menos R$ 300,00), isso reforça muito seu motor, da confiabilidade e evita dissabores financeiros.

Caso queira e tenha disponibilidade, é interessante comprar um motor básico da Volks, ele já vem montado com bloco, pistões, virabrequim, cilindros, cabeçote e depois é só passar o resto do seu antigo para o novo. O custo disso fica ao redor de R$ 1.300,00.

Tendo o básico já podemos partir para as preparações.

1) 1.600 cc – Gasolina – 80 a 90 cv – 0 a 100 km/h em 10 segundos.

2) 1.600 cc – Álcool – 140 cv – 0 a 100 km/h em 7 segundos.

3) 1.600 cc – Álcool – 160 cv – 0 a 100 km/h em 6 segundos.

4) 1.600 cc – Álcool – 200 cv – 0 a 100 km/h em 5 segundos.


“1.600cc – Gasolina – 80 a 90 cv”

KIT
CUSTO
Valor Aproximado
2 Carburadores Weber 40
R$ 1.700,00
2 Coletores para Weber 40
R$ 300,00
1 Comando de Válvulas
(286 ou 290)
R$ 250,00
TOTAL
R$ 2.250,00

(Adicionar Mão de Obra)

Vale também lembrar que o motor 1.600 cc original tem 65 cv e faz de 0 a 100 km/h em 17 segundos. Os dois carburadores duplos Weber 40 proporcionarão maior "respiração" ao motor, ou seja, entra mais mistura de ar / gasolina. Os dois coletores são os "canos" que ligam o carburador ao motor, coletando a mistura (vapor) produzida pelo carburador levando-a para as válvulas de admissão dos cilindros.

Os comandos de válvulas determinam o tempo que as válvulas ficarão abertas. Esses comandos mais "bravos" (286 ou 290) fazem com que as válvulas fiquem mais tempo abertas, proporcionando mais entrada da mistura. Em resumo, o que estamos fazendo com essas duas modificações visa aumentar o volume de mistura a ser explodida no cilindro, conseqüentemente, gerando maior potência. Com esses comandos trocados, a rotação original que era de 5.500 rpm passará a atingir de 7.000 a 7.500 rpm.

Pronto, eis aí um belo motor que não trará problemas e injetará uma boa dose de adrenalina no seu tanque. Parece até receita médica: para injetar uma boa dose de adrenalina nas veias prepare seu motor.


Como Envenenar Seu Fusca!

                       Capítulo III


No capítulo anterior, descrevi como fazer um motor de Fusca 1.600 cc, a gasolina com mais ou menos 80 a 90 cv. Agora, neste capítulo partiremos para motores mais fortes, e para tanto, teremos de mudar o combustível para álcool.

O álcool requer e suporta uma taxa de compressão maior que a gasolina, e o motor estando mais comprimido gera uma explosão mais forte proporcionando maior potência.

Taxa de compressão é a relação entre o volume máximo da câmara de combustão (quando o pistão está em seu nível mais baixo) e o seu volume mínimo (pistão na posição mais alta). Por exemplo: taxa de compressão de 10 para 1 significa que o volume máximo é dez vezes maior que o volume mínimo.

O motor de Fusca 1.600 cc, a gasolina, original, tem uma taxa de 8,5/1, e para que todo o álcool seja queimado elevaremos essa taxa para 12,5/1 a 14/1. A gasolina brasileira não suporta essa compressão, e explodirá antes da hora (faísca), gerando as tais "batidas de pino" e isso compromete o motor. Daí o porquê de usarmos o álcool.

Para aumentar a taxa de compressão, basta rebaixar o cabeçote, e as boas retíficas saberão como fazê-lo a um custo de mais ou menos R$ 250,00.

Mantendo-se os dois carburadores duplos Weber 40 do capítulo anterior, também os comandos de válvulas 286 ou 290, aumentando a taxa para 12,5/1 e usando álcool, você alcançará uma potência de 130 a 140cv. Isso fará seu Fusca arrancar de 0 a 100 km/h em apenas 7 segundos, lembrando que a BMW mais comum faz em 7,6 segundos.

Se quiser mais, aumente a taxa para 14/1 e seu veneno vai ter de 150 a 160 cv e o "coice" gerado vai te levar a 100 km/h em 6 segundos, ou seja, você vai ficar lado a lado com um Porsche 911 dos novos. Só que você vai estar dando risada e ele rangendo os dentes!

Antes de vermos motores com suas cilindradas aumentadas, vamos dar "uma babada" num motor 1.600 cc turbinado. É um motor que oferece ótima relação custo / benefício e que propicia a venda do carro retirando-se o kit do turbo sem complicações e perdas. Vejamos como é: você mantém a dupla carburação Solex 32 original que será alterada internamente, com troca de giclês, bengalinhas etc. Também instala uma bomba elétrica de combustível (esses dois itens já estão incluídos no kit-turbo). Mantém o comando original e a taxa de compressão de 8,5/1 (o turbo se encarrega de comprimir o álcool até o nível desejado). Veja que neste caso é imprescindível trocar os prisioneiros do cabeçote como descrevi em artigo anterior. Mande colocar um kit-turbo Garret T2 ou um kit Mitsubishi, esses kits completos e instalados estão em torno de R$ 1.700,00 a R$ 2.000,00. Você pode encontrar boas oficinas especializadas nas provas de arrancada em Interlagos, pois é lá que elas fazem suas propagandas e disputam quem é o melhor.

Com um motor feito assim e com uma compressão de 1,5 kg na turbina, seu Fusca terá uns 200 cv, e espero que você seja responsável atrás do volante, porque fica fácil se matar (ou matar alguém) com um canhão desses na mão. Ele chega a 100 km/h em meros 5 segundos. A troca de marchas deve ser muito rápida, pois o motor "passa de giro" num lapso e veja que nesses 5 segundos você já vai estar pondo a 3ª marcha.

      Como Envenenar Seu Fusca!

                               Capítulo IV






Você não ficou satisfeito com os Fusca 1.600 cc mexidos do capítulo anterior?

Podemos aumentar a cilindrada para 1.800, 1.900, 2.000, 2.100, 2.200 e até 2.400 cc.

Há uma enormidade de combinações entre cilindrada, comando de válvulas, carburação, virabrequim, ignição, turbo, nitro e outras coisas onde se pode passar dos 400 cv num endiabrado motor de Fusca.

Para aumentarmos a cilindrada de um Fusca é necessário trocar os cilindros e os pistões, pois como você sabe, o motor do Fusca, sendo refrigerado a ar, tem seus cilindros encaixados por fora do bloco, não como nos carros a água, onde o cilindro fica dentro do bloco e nesse caso para o aumento de cilindrada arromba-se o bloco e coloca-se pistões maiores. Esses conjuntos de pistões, cilindros e anéis são vendidos em kits para encaixar a base do novo cilindro, agora maior, no bloco. Este bloco deve ser arrombado em uma oficina ou retífica. Não se esqueça de levar junto o novo kit para terem a medida exata na hora de fazer o serviço, e tratem de colocar os novos prisioneiros no bloco.

Outro recurso é trocarmos o virabrequim, colocando outro que tenha um curso mais longo, ou seja, o pistão vai subir e descer mais, desse modo também aumenta-se o volume deslocado. É um modo de termos um motor com uma faixa de torque maior, mas este fica para Fusca de maior cilindrada e sobre isso falo depois, agora vamos "montar" o 1800 cc.

Eis a receita:



Kit 1800..............................................................................R$ 600,00

Dupla carburação Weber 40.........................................R$ 1.700,00

Dois coletores para carburação......................................R$ 300,00


Comando de válvulas bravo............................................R$ 250,00 

Total................................................................................R$ 2.850,00

(Adicionar Mão de Obra)

Para comando de válvula mais bravo, recomendamos o 286 ou o 290, que vão aumentar a rotação final de 5.500 para 6.700 a 7.000 rpm, sem comprometer a marcha lenta a ponto de ficar ruim de andar na rua. Há comandos mais fortes, porém são chatos no trânsito e restringem o uso na pista, portanto vamos ficar nos de rua, mais para frente vamos ver alguns das provas de arrancada.

Caso você queira rodar com gasolina, peça para deixarem o motor com uma taxa de compressão de 9,5 para 1. Se quiser que o motor fique mais forte, passe para álcool, coloque mangueiras de combustível próprias, adapte o carburador, e peça para deixarem a taxa entre 12,5 e 14 para 1, pois o álcool necessita de maior compressão para queimar completamente. Esse motor, usando álcool, vai render tranqüilo mais de 160 cv, porém sugiro que o deixe a gasolina com taxa de compressão ao redor de 9,5 para 1, pois no futuro você pode resolver turbinar e aí sim, passar para o álcool e manter essa taxa de 9,5 que vamos ter um canhão para disparar, com uma explosão de mais de 200 cv.
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                                     Capítulo V


Tem muita gente apaixonada por Fusca mexido, mas a pessoa mais curiosa que conheci, foi uma senhora bastante idosa que certo dia me pediu uma preparação para seu Fusca 68 original, e assim "dar um pau" no seu neto que acabara de comprar um Audi TT Roadster e que não foi muito respeitoso no modo de se referir ao Fusca da avó. Ponderei que minha postura ética não me permitia incentivá-la em tão perigosa façanha, mas após garantir-me pequena parcela no seu seguro de vida, mudei minha ética e orientei-a com muito carinho.

Comecei por explicar-lhe que somente garantiria na arrancada, até os 120 km/h (1ª, 2ª, e 3ª), pois esse Audi que resolvemos aporrinhar chega aos 240 km/h e no caso de um acidente com um Fusca a 250 km/h teriam dificuldade no reconhecimento de seus restos mortais e eu não receberia minha bolada e isso minha nova ética não permitiria. Ela topou!

Primeiro, analisemos o inimigo! O Audi TT Roadster tem tração nas quatro rodas, o que é um agravante para nós, pois não deve patinar nada na saída equiparando-se ao nosso Fusca nesse item, desde que nossa piloto equipe seu torpedo com pneus e talas mais largas, o que vai deixá-lo agarrado na arrancada e relativamente estável em velocidades mais altas. Ponderei que este é o único meio de obter boas arrancadas.
Segundo, pesando 1.475 kg e tendo 225 cv, cada cavalo desse Audi carrega 6,55 kg (1.475 dividido por 225 = 6,55), e como nosso Fusca pesa ao redor de 850 kg, teremos que fazer um motor com mais de 130 cv para termos uma relação peso/potência mais favorável (850 dividido por 130 = 6,54). Fique sempre ligado nesses itens para ter um comparativo da aceleração dos automóveis (a Formula 1 tem 850 cv e pesa ao redor de 550 kg, peso/potência = 0,65, assim cada cavalo só carrega 650 gramas nas costas).

Resolvemos, portanto montar um motor de 1.900 cc com uma dupla carburação Weber 48, um comando de válvulas 290 e passar para o álcool. A dupla 48 pode parecer um pouco exagerada, mas é um modo de deixar o carro mais suave no trânsito já que o novo comando de válvulas é mais bravo, ou seja, para o motor não "embaralhar" em baixas rotações deve-se permitir que ele respire livremente e, para isso, coloca-se carburadores com ampla passagem de ar.

Em terceiro lugar, para que a nossa piloto possa treinar a vontade, sem o risco do motor derreter, resolvemos adaptar um radiador de óleo suplementar e também outra bomba de óleo, desta forma, além do radiador de óleo original, que fica dentro da ventoinha, teremos outro para ajudar na refrigeração, pois além da cilindrada estar maior, a rotação final também foi aumentada pelos novos comandos, ou seja, ocorre um aumento do atrito em função do maior sobe e desce por minuto, além do álcool liberar mais calor que a gasolina. Como não temos água no motor do Fusca, devemos refrigerar o óleo mesmo. Se permitirem, coloque a mão no pára-lamas de um Porsche a ar (Fusca melhorado) e vai notar que caso o motor esteja quente o pára-lamas também vai estar, pois ele está cheio de radiadores de óleo por baixo.

Em tempo: deixamos a taxa de compressão em 14 para 1.



Custos

 Kit 1.900
R$ 600,00

Dupla Weber 48
R$ 1.800,00

Coletores para dupla carburação

R$ 300,00

Comando 290
R$ 250,00

Radiador e bomba de óleo
R$ 630,00

Total
R$ 3.580,00

(Adicionar Mão de Obra)

Teremos aí um motor com mais ou menos 170 cavalos, o que dá uma relação peso/potência de 5 kg para cada cavalo, isso deve garantir os intentos de nossa amiga e também os meus!


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                            Capítulo VI





Receita rápida para um motor de 2.000  cc.

Para se chegar a essa cilindrada toda, teremos que aumentar o curso do pistão, não dá para alargar mais os buracos que serão feitos no bloco, o 1.900cc é o limite. Portanto, usaremos o kit 1.800 cc (90,5 mm de diâmetro) e um novo virabrequim que dará um curso de 78,4 mm ao pistão.
Usando a fórmula de calcularmos o volume de um cilindro e multiplicando pelo número de cilindros, chegaremos ao tão almejado dois litros.

De resto, comando, carburação, radiador de óleo, basta seguir o que foi recomendado para o 1.900 cc do capítulo anterior.

Os custos aumentam em R$ 450,00 que é o quanto cobram em média por um virabrequim 78,4 e mais uns R$ 100,00 para trocá-lo.

No próximo capítulo, veremos como são montados os 2.100 e os 2.200cc.


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                               Capítulo VII



No capítulo anterior passei um pouco rápido na explicação de como se mede o volume de um motor, ou seja, sua cilindrada. Não é complicado e creio ser necessário para quem quer, pelo menos, enganar o irmão menor, e dar uma de entendido quando o papo for motores. Vamos a fórmula do volume do cilindro:

             Pi X raio ao quadrado X altura = volume

    Pi é um valor constante de 3,14.

    Raio é a metade do diâmetro do cilindro (no kit 2.000 usamos cilindro com 90,5 mm, ou seja, 9,05 cm) portanto o raio neste caso mede 4,525 cm.

    Altura é o curso do pistão (o quanto ele sobe e desce), que neste caso usando virabrequim especial teremos um curso de 78,4 mm (7,84 cm) (nota: transformar as medidas para centímetros).

    Volume = 3,14 X (4,525 x 4,525) X 7,84 = 504 centímetros cúbicos = cc = cilindrada. Multiplica-se 504 pelo número de cilindros (4) = 2.016 cc, portanto este motor que chamamos 2.000, na verdade tem 2.016cc.

Podemos aumentar a cilindrada para 2.100, 2.200 e 2.300cc, sugiro que fiquem no 2.100, porque daí para frente, acredito que o ganho de potência não compensa a perda de robustez. Mas, de qualquer modo, vamos ver como se faz.

Para o 2.100cc usa-se o mesmo kit do 1.800 cc (90,5 mm de diâmetro), mas já com outro virabrequim, este vai dar um curso de 82,0 mm.

- Usando a fórmula: 3,14 X (4,525 X 4,525) X 8,2 = 527,2 cc X 4 cilindros = 2.108 cc.

Já para o 2.200 cc usa-se o kit de 92,0 mm de diâmetro com vira de 82,0 mm de curso.

- Usando a fórmula: 3,14 X (4,6 X 4,6) X 8,2 = 544,8 cc X 4 cilindros = 2.180 cc.

Com o 2.300 cc usa-se o kit com 94,0 mm de diâmetro com vira de 82,0 mm de curso.

- Usando a fórmula: 3,14 X (4,7 X 4,7) X 8,2 = 568,7 cc X 4 cilindros = 2.275 cc.

O comando de válvulas 294 vai bem nesses três motores, e uns dizem que a dupla Weber 44 é o bastante, mas prefiro a dupla Weber 48 que deixa o motor mais liso em baixas rotações. E com o álcool podemos aumentar a compressão e deixá-la em redor de 13,0/1, fica mais forte que com gasolina.



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                                       Capítulo VIII




Vamos falar de uns diabinhos, os Fuscas turbinados. Creio que turbinar é uma excelente opção porque não exige grandes gastos nem a abertura do motor (desde que esteja em perfeito estado e, volto a falar, tenha os novos prisioneiros).

Caso você tenha um 1.600 cc, com uma carburação dupla original 32, basta turbiná-lo, trocar giclês, manter o comando de válvulas original que você terá um Fusca danado de esperto. Caso queira, e o caixa permitir, uma dupla carburação Weber 40 vai deixá-lo mais esperto nas baixas rotações, enquanto o turbo não entra em ação (o que ocorre por volta das 3.000 a 3.500 rpm).

Quanto aos cavalos, não tenho uma estimativa precisa, mas com certeza, algo acima dos 150 cv e de uma coisa tenho certeza, leva quase tudo que se “meter a besta” com ele.

Deve-se usar álcool como combustível, para agüentar a maior compressão proporcionada pelo turbo.

Com relação à taxa de compressão, caso seu motor seja a gasolina, a taxa original fica mantida e passe para o álcool. Peça para deixar a pressão do turbo entre 0,8 a 1,0 kg, pode até aumentar, mas com maior pressão que isso, você se arrisca a ter problemas. Quer um conselho? Comece com 0,8 kg, depois você vê o que faz!

Caso seu motor já tenha uma taxa de compressão para álcool, ou seja, acima de 12,0/1, não deixe que coloquem mais de 0,6 kg de pressão no turbo. Mais pressão, mais potência, menor durabilidade. No caso, 0,6 kg tá bom para começar.

Com essas pressões do turbo, e com o pé direito razoável, o radiador de óleo extra, pode ser dispensado, mas caso queira colocar, ele é sempre bem-vindo.

Câmbio mais longo, não gosto. Não estou convencido que o Fusca seja um carro para altas velocidades. Não recomendo, e ponto. Divirta-se com a 1ª, 2ª, 3ª, e a 4ª fica para manter, estabilizar.

Além do mais, com marchas mais longas, perde-se no pulo inicial. Lembro-me que após tirar as engrenagens de SP-2 (mais longo que do 1.600 cc original), fui testar minha antiga Brasília (branca) 2.100 cc, e fiz a besteira de convidar um amigo que pesava pelo menos uns 130 kg. Moral da História, tamanho pulo deu a “Brasa” que meu amigão arrancou o banco do passageiro com os trilhos e tudo, ficando com os pés para o alto, rindo as gargalhadas, enquanto eu tratava de diminuir devagarinho porque, com o banco solto feito gangorra, se freasse ele ia amassar a cara no vidro. Fusca é para isso pessoal! Dar boas risadas, e não para se matar a 200Km por hora!

É possível que seja necessário trocar a embreagem por uma de cerâmica, pois a original pode não agüentar a potência e patinar. Mas não é só na saída que ela patina, ela pode patinar quando você está em primeira ou segunda e acelera bruscamente. Como se fosse uma embreagem velha, gasta. Isso tem seu lado bom, é sinal que o seu motor está forte mesmo. Também é necessário trocar as molas que acionam a embreagem por outras mais fortes, e isso vai endurecer o pedal, mas paciência, um pouco de exercício não faz mal.

No momento é esse o motor que pretendo fazer para mim, com dupla Weber 40, turbo, dar uma trabalhada na suspensão, rodas, pneus, e um teto-solar pra ver as estrelas em noites de verão.

 Pretendo dar umas rachadas na arrancada e não abusar da final nem das curvas. Nos próximos capítulos, vamos aumentar a cilindrada dos turbos, estudar o uso do nitro, suspensões, pneus, Fusca de arrancada e por aí vai!


               Como Envenenar Seu Fusca
                                 Capítulo IX



No capítulo passado, apresentamos o motor 1.600 cc turbinado. É uma preparação excelente e simples de fazer e não muito cara. Mas como alguns farão os turbo 1.600 e ficarão satisfeitíssimos, outros por pura maldade farão os turbo 1.800 cc para deixar os primeiros contrariados. Aí, outros virão com turbo 1.900 cc e assim por diante!

Chegam a ponto de sentar ao lado de uma turbina de jato DC 10 e descer o “cacete” (para quem não sabe, há dragsters nos Estados Unidos assim, com empuxo equivalente a 10.000 cv), são pessoas aparentemente normais, não mordem, conseguem falar, apanham da mulher, ou seja, não é necessário acorrentar e soltá-los só na hora de entrar no carro. Mas, como sou um homem prudente, não vou contrariar essas pessoas e as ensinarei a fazer os turbo 1.800 cc e 1.900 cc e assim por diante. Se você não se encaixa no tipo, não precisa ler!

Daqui para frente necessitamos uma carburação maior (duas duplas Weber 40 ou 44), senão teremos um carro muito “chocho“ nas rotações mais baixas, antes do turbo entrar em ação. Além disso, teremos colocado um comando de válvulas mais nervoso (do 284 até 310 graus), para atingirmos rotações mais altas, e se não usarmos uma carburação de maior passagem de ar, o motor ficará “pipocando” até atingir a entrada do turbo.

Usaremos álcool e uma taxa de compressão de 8,5/1. Devido ao álcool e a maior cilindrada, uma melhor refrigeração será necessária, por isso um kit de bomba e radiador de óleo deve entrar no pacote.

Estima-se que o turbo 1.800 com 0,8 kg de pressão chegue a 180 cv (100 cv por litro). Tendo uma potência maior, caso aumentem a pressão da turbina, que é regulável, ou caso instale-se um dispositivo chamado “BUSTER” (queimador) — que funciona acionando-se uma chave no painel — ao pisar fundo no acelerador, a pressão praticamente dobra, a potência explode e o motor “xinga” todos os seus antepassados pelo esforço que vai ter que fazer.

O turbo 1.900 cc segue na mesma linha, mesmo modo de fazer. Somente usaremos outro kit de camisas e pistões, como expliquei em capítulo anterior (V). É claro que a potência aumenta, mas nem tanto, pois a variação da pressão do turbo é que vai fazer a maior diferença.

Conheci um tipo simpático, proprietário de um Fusca 65, turbo 1.900 que, certa noite, estando com outros amigos Fusca-desmiolados, conversava numa esquina, quando chegou com espalhafatoso rapaz num Mitsubishi 3.000 GT. Tentarei repetir o diálogo que se seguiu:

    Ouvi dizer que aqui costuma ter uns Fuscas bons de arrancada, você sabe de alguns por aí?

    Olha, bonitão, hoje os bons mesmo não estão, mas qualquer um destes quatro dá pau nesse seu “Batmóvel”, pode escolher!

    Bom, então vai você mesmo, que tal?

Pois é, essas foram as últimas palavras publicáveis do dono desse Mitsu 3.000 (tem 300 hp), porque não preciso lhes dizer o que aconteceu. Na verdade, preciso sim. Foram para um local seguro e combinaram que só valeria uma distância curta, o equivalente a dois quarteirões, porque o dono do Fusca sabia muito bem qual era o seu limite. Mas como isso foi possível? Ora, o Mitsu 3.000, apesar de seus 300 cv, pesa 1.450 kg, o que lhe dá uma relação peso/potência (ver capítulo V) de 4,8 kg por cv, ao passo que o Fusca com 200 cv e 850 kg tinha uma de 4,25, ou seja, menos peso para cada cavalo. O mesmo não ocorreria se em vez de o querido Fusca de tração e motor traseiros tivéssemos, por exemplo, um Gol com mesma potência, ou mesmo maior, pois ele patinaria na saída, dando tempo para o Mitsu disparar mandando tchauzinho (vale lembrar que tem tração nas quatro). O Gol patinaria porque em acelerações bruscas, a massa do carro é deslocada para trás, pesando sobre as rodas traseiras e aliviando as dianteiras, fazendo com que estas percam tração. O inverso ocorre nas freadas, a massa se desloca para frente, e é por isso que a maioria dos carros tem freio a disco nas dianteiras, pois é nelas que recai quase todo o peso nas freadas.





                Como Envenenar Seu Fusca!

                                      Capítulo X





Conforme prometi no capítulo anterior, aqui vão os custos desses esplêndidos motores Fusca turbo 1.800 cc e turbo 1.900 cc que são motores que rendem de 180 a 200 e poucos cavalos. Convenhamos que para um Fusca não está mal. Pode-se retirar mais potência destes motores, simplesmente aumentando a pressão do turbo acima dos 0,8 kg para motores com taxa de compressão baixa (8,5/1), ou acima de 0,6 kg para os que já tenham taxa mais alta (12/1, motores a álcool anteriormente preparados sem turbo). É um artifício que resulta em ganho de potência, porém teremos perda em durabilidade caso não se utilize pistões, camisas, bielas, bronzinas, etc. especiais. Essas peças são bastante caras e recomendadas para quem pretende participar de provas de arrancada ou de algum ato terrorista qualquer, assim sendo, pretendo fazer uma pausa nos Fuscas e retomá-los quando a situação mundial estiver mais calma.

Vamos aos custos do turbo-1.800 cc e turbo-1.900 cc, os quais praticamente não diferem.


KIT-TURBO

R$ 1.800,00

Mão de Obra da instalação do turbo

R$ 400,00
WEBER 40 ou 44 com coletores

R$ 1.800,00
(Recomendo a 44 para ter mais torque em baixa)

COMANDO 284 ou 310 graus

R$ 320,00
(Recomendo o 284 para ficar mais “redondo” em baixa)

Mão de Obra da instalação do comando

R$ 180,00

KIT 1.800 ou 1.900 cc (Recomendo o 1.900, mesmo preço do 1800 e + 100 cc)

R$ 600,00

Mão de Obra da instalação do Kit
R$ 350,00
TOTAL
R$ 5.450,00
Esse é o custo para transformar esse seu humilde Fusca num Dragão. Não há mágicas, mas este ainda é o método mais barato de ter um carro com arrancadas de “envesgar” os olhos, atingindo 100km/h em instantâneos 5 segundos.

Na certa você deve estar querendo saber alguma coisa sobre o gás NITRO. Bem, na verdade o nome completo é NITROMETANO, e engana-se quem pensa que esse gás seja explosivo, o ser humano é capaz de emitir gases muito mais explosivos que esse, portanto não o tema. O Kit-Nitro consiste de um pequeno botijão (+ ou - 5 litros) com o Nitro comprimido, essa compressão faz com que o gás tenha sua temperatura muito rebaixada e ao ser injetado dentro do cilindro (por meio de caninhos de cobre e bicos injetores instalados no carburador), esse gás se expande lá dentro e passa a agir como um compressor, só isso. Proporciona um aumento de potência de mais ou menos 40%, porém o inconveniente é a pouca duração do botijão, coisa de 5 a 7 minutos de acionamento (o acionamento acontece ligando-se um botão no painel e em seguida pisando fundo no acelerador), depois é necessária a recarga em locais especializados. Daí seu uso ficar restrito a provas de arrancada ou a autos importados, pois estes últimos para serem preparados demandam modificações caras e que no final desvalorizam o carro. Nesse caso o Kit-Nitro é colocado e retirado sem deixar rastros. Não recomendo para o uso que pretendemos nestes capítulos, simplesmente porque dos que vi colocarem, todos tiraram, por ser caro o recarregamento e pelo desconforto de fazê-lo a toda hora. Não adianta você dizer que vai economizar, que vai usar só de vez em quando que eu te conheço!

Para finalizar, jamais beba antes de dirigir, principalmente uma dessas belezinhas!